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Saudade infinita |
Muita gente já me questionou por que eu não parei de fumar logo quando ela faleceu. Eu mesma já me questionei isso várias vezes. Afinal de contas, eu vi a minha mãe lutar contra essa doença por quase 02 anos, acompanhei o desgaste físico e emocional de toda a minha família e mais ainda, convivi com o efeito devastador que o câncer causa. Foi tudo muito horrível e doloroso (conforme eu escrevo esse texto percebo que ainda não superei o que passei e encontro muita dificuldade em tocar no assunto).
Mas a pergunta é: por que eu não parei depois que vi tudo isso? A resposta mais simples e óbvia é "porque eu não quis". De certa forma é bem isso mesmo, se eu realmente quisesse ter parado eu ia parar. Só que agora eu também vou me defender: não era tão simples assim.
Eu fiquei apavorada quando minha mãe faleceu. Eu tinha 23 anos e me vi sozinha, com medo, totalmente a deriva e sem saber como seguir em frente. Se hoje, passados quase 09 anos, eu ainda tenho dificuldade para lidar com isso, imaginem como ficou minha cabeça na época. Foi muito difícil e eu tive que tirar uma força absurda para me levantar, seguir em frente e tocar a minha vida adiante. Foi muito difícil, muito triste mesmo.
Eu havia prometido para a minha mãe que eu pararia de fumar. Ela me pediu tanto. Tanto, Tanto! Só que antes eu tivesse tentado enquanto ela estava viva. Ao menos eu teria o apoio, o abraço e o carinho dela. Depois que ela faleceu eu não conseguia achar forças para tocar mais nenhum outro projeto em frente, muito menos o de parar de fumar. Decidi que alguma hora eu pararia, mas naquele momento eu não teria forças e resolvi deixar para um outro momento.
Foi a partir da minha época de luto que comecei a fumar escondido de muita gente - inclusive daqueles que sempre souberam que eu fumava. Foi dolorido pra mim todos esses anos continuar junto daquele que tirou a minha mãe de mim, mas ao mesmo tempo de maneira bem contraditória o cigarro era o meu maior aliviador de angústias e dores. Vai entender!
Vocês não imaginam a quantidade de vezes que eu ouvi "E você ainda fuma?" seguido de um olhar horrível quando o assunto era a morte da minha mãe. Uma ressalva aqui: existia o questionamento amigável, porque convenhamos, era curioso o fato de eu continuar fumando, mas também tinha o questionamento arrebatador, com o olhar de reprovação e desprezo. Esses eram cruéis. Engraçado que essas mesmas pessoas que me criticavam cruelmente nunca me ofereceram ajuda: seja pelo vício ou seja pelo luto. Foi cada paulada que eu recebi, inclusive o horroroso discurso que dizia que eu não deveria me permitir chorar uma morte que eu também estava buscando pra mim(!).
Essa fui eu nos últimos anos. Fumando, sendo julgada e me culpando. Aos trancos e barrancos cheguei no memorável dia 29 de agosto de 2016, quando eu finalmente abandonei o vício!
Lógico que eu queria ter parado antes, lógico que eu nunca deveria ter continuado e aproveitado o caos da minha vida e a minha dor para abandonar o cigarro lá em 2008 quando eu perdi minha mãe. Só que eu não consegui. Hoje eu também vejo a força maluca que eu tive que ter para parar de fumar e sinceramente eu não sei se eu conseguiria naquela época, eu já estava sofrendo demais. Seria força demais para uma pessoa só, eu não sei se eu conseguiria.
Enfim, águas passadas, o que já foi já foi e fato é que eu demorei, mas finalmente eu parei. Ufa pra sensação de culpa e ufa por me livrar desse vício horrível. Minha mãe implorou para eu parar de fumar e hoje eu só posso dizer "Mãe, eu consegui. Desculpe a demora!" e respiro aliviada em todos os sentidos e por todos os dias.
E vamos em frente!
Vida que segue!
Até a próxima pessoal!